E é Assim que Se Perde a Guerra do Tempo – Uma Obra de Arte Imprevisível

E é Assim que se Perde a Guerra do Tempo é um livro curto, lento e complexo. Confuso, quase do começo ao fim. Poético ao extremo. Confunde o leitor de todos os jeitos possíveis e nos faz desejar que a história fosse contada de outra forma, por nos apresentar um mundo maravilhoso, ao mesmo tempo que o esconde nas entranhas do livro. 

E, ainda sim, trata-se de uma obra de arte, imprevisível, deliciosa e um prato cheio para quem ama literatura, poesia e está exausto de clichês e fórmulas prontas. 

Sinopse do livro

Red encontra-se em mais uma missão, quando descobre uma carta endereçada a ela. Escrita por uma agente do lado inimigo, Blue e Red iniciam uma correspondência proibida, que pode arriscar pôr em risco tudo o que trabalharam para vencer a guerra do tempo pela qual ambas lutam em lados opostos. 

e é assim que se perde a guerra do tempo

Para quem o livro é indicado

E é Assim que se Perde a Guerra do Tempo não é um livro infanto juvenil nem para quer uma leitura leve. 

Com uma narrativa madura e poética, a leitura é lenta, cuidadosa e gera inúmeras reflexões. O foco não é a história, mas as cartas, o relacionamento de Blue e de Red e toda a construção dele, cuidadosamente arquitetada.

Um livro indicado para quem quer algo fora dos padrões, gosta de narrativas diferentes e não tem medo de um pouco de poesia e confusão.

Destaques do livro: uma narrativa livro lenta, imprevisível e fora dos padrões

A coisa que mais chama a atenção no livro é a controversa de um ritmo rápido, que não se demora em detalhes e em desenvolvimento da trama, mas que provoca uma leitura lenta, exatamente pelo tanto que detalha a alma das personagens. 

Nós não conhecemos Blue e Red com cuidado, muito menos a guerra, nem sabemos porque ela existe. E, além de breves aparições de Jardim, a Comandante e a presença quase obscura da Rastreadora, não há muito desenvolvimento de outros personagens. Eles saem da mesma forma que entraram. 

Porém, nós conhecemos o relacionamento de Red e Blue com tanta riqueza, que em algumas horas parece que estamos invadindo um momento íntimo e a vulnerabilidade que as personagens se expõem uma para outra é bonita, ao mesmo tempo que quase incomoda.

Não é o trama que importa, mas as cartas

A narrativa é poética, delicada e confusa. O livro não te dá um norte e te leva a tirar conclusões bases sobre a leitura que muitas vezes são subvertidas páginas à frente, obrigando o leitor a reconfigurar tudo que havia entendido para continuar a leitura. 

Embora seja linear, a facilidade com que o livro foge dos padrões cria uma dificuldade inicial de se situar. Os autores não usam mecanismos tradicionais de narração e, quando usam, fogem do padrão a qual estamos acostumados. O começo do livro parece um foreshadow, porém, é precisamente o começo do texto, linearmente falando. A Rastreadora parece ser mais de uma personagem e só no final descobrimos que não é. 

Porém, logo fica claro que, em E é Assim que se Perde a Guerra do Tempo, a trama não importa. O que importa são as cartas. O redor serve de base para a delicadeza com que o amor de Blue e Red floresce, de forma madura, ardente e ao mesmo tempo, complexo e juvenil, de duas pessoas tão experientes em outras coisas, mas que acabam se conhecendo à medida que vão se conhecendo e modificando coisas uma na outra.

A poesia em formato literal

Outra maravilha na estética narrativa de E é Assim que se Perde na Guerra do Tempo é a subversão de pegar estratégias poéticas e transformá-las no literal. Fome, comer, devorar, engolir e outras expressões são vistas no sentido abstrato e poético, como também se tornam literal em diversos momentos, enriquecendo a narrativa e nos obrigando a vivenciar a fantasia de uma forma que transcende a experiência literária. 

Em diversos momentos, vemos o abstrato tomando forma enquanto sólido se transforma no abstrato. Para quem gosta de poesia, fantasia e ficção, o livro encontra um equilíbrio certeiro e gostoso.

O poder da estrutura narrativa

O livro não te diz para onde ir, não mastiga o conteúdo para o autor e as viradas não são óbvias. As personagens são fortes, mas não as conhecemos a partir de ações necessariamente, mas do que elas falam e de como falam. Isso traz uma forma de interpretar personagens novamente fora da zona de conforto da leitura tradicional. 

A história é estruturada sobre a ideia de que duas agentes inimigas em uma guerra no tempo, onde qualquer micro ação tem um impacto forte, seja positivo ou negativo, para a estratégia de ambos os lados. A narrativa acompanha a lógica de que estamos numa guerra do tempo caótica, seguindo uma linha que obriga o leitor a se esforçar um pouco para ler.

Esses pontos evocam uma reflexão interessante para quem gosta de estudar a escrita e os elementos narrativos de um livro. O texto não só expõe uma forma que provoca desconforto ao leitor, causada pela confusão inicial que o livro gera, como também escolhe um caminho não muito comercial. A ideia de uma guerra do tempo e agentes inimigos conversando poderia ser contada de diversas formas. 

Porém, os autores escolheram uma bastante peculiar. Isso faz a gente pensar em como a narrativa tem poder e em como escrever é um jogo complexo de xadrez, em que as variáveis infinitas fazem com que a gente brinque de formas diferentes com o mesmo enredo e, ainda sim, seria delicioso ler a mesma história de novo e de novo.

e é assim que se perde a guerra do tempo - resenha

Visão geral

De maneira geral, o livro é gostoso de ler, traz uma narrativa interessante, provoca diversas reflexões sobre a vida, o amor e o tempo. A visão feminina é marcante, uma vez que todas as personagens são mulheres (até mesmo a referência de Deus em um momento). 

O livro é excelente para aspirantes a escritores, por ser uma aula de como fugir de padrões, pensar fora da caixa e trazer uma narrativa nova, assim como uma experiência bastante singular, ressignificando mais uma vez o que é a escrita. 

Sobre os autores

E é Assim que se Perde a Guerra do Tempo foi escrito por dois autores. Max Gladstone e Amal El-mohtar.

Max Gladstone é um autor norte-americano, que tradicionalmente escreve textos de fantasia. Amal E-mohtar é uma escritora canadense, focada em ficção especulativa. 

O trabalho dos dois autores é pouco conhecido no Brasil, sendo E é Assim que se Perde a Guerra do Tempo o trabalho mais popular e ambos em território nacional. 

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